segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Perfume de Dendê

Perfume de Dendê
Peito sal de fruta
Anca a descoser
O falo enriste amputa

Esguia a silhueta
Pudor na sepultura
Meu corpo escorrerei
No eixo glande-vulva

(Octavio Paz)

"Mis manos
Abren las cortinas de tu ser
Te visten con otra desnudez
Descubren los cuerpos de tu cuerpo
Mis manos
Inventan otro cuerpo a tu cuerpo"





Vendeta Silenciosa

Portanto, 
O ar que se escondesse
De suas narinas
Sopraria boas novas
E no cintilar das horas
Um brado animal
Atentem-se 
Faltam instantes
para a descarga final. 

Fogo em negro miocárdio
Cânticos do calabouço 
Em acordes rápidos
Tão longe, tão perto
Tudo termina
Naquele ato 

Poros soberbos
Dourados
deliciam-se nos seios fartos
daquela que tudo reivindica 
Amém-Gaia
Acolha o bastardo

Bêbado, Psicopata e Filho da Puta

Me mantenha longe
Do alcance
Das criancinhas
E dos animais

Pois sou bêbado
Psicopata e filho da puta!


Minha Desgraça (Álvares de Azevedo)

Minha desgraça
Não é ser um poeta
Nem na terra de amor
Não ter um eco
E meu anjo de Deus
o meu planeta
tratar-me como um boneco

Minha desgraça!

Nem é andar
De cotovelos rotos
Ter duro como pedra
O travesseiro
Eu sei, o mundo
É um lodaçal perdido
Cujo o sol (quem me dera)
É o dinheiro

Minha desgraça!

Minha desgraça
Oh, cândida donzela
O que faz o meu peito
Assim blasfema
É ter que escrever
Todo um poema
E não ter um vintém
Para uma vela

Minha desgraça!


Verborragia de Curral

Verborragia de curral
Adubo que não deixa pensar

Eles tem medo dos comunas
Eles tem medo dos ateus
Eles tem medo dos gays
Eles tem medo dos sem terras

Verborragia de curral
Adubo que não deixa pensar

My Little Boy

Por favor, my little boy
Antivírus de direita
Não avance e pule
Já para o seu escudo
Não me bata com a sua coleira
Além de borracha
Tens outras balas
           De morango ou de cereja?

Uhhh, que medo
Nhá nhá nhá nhá nhá

Por favor, my little boy
Cultivador da nobreza
Jaz  a flor da idade
Não é verdade?
O que sobrou da colheita?
Prosas inventadas
Poesia n’água
E  uma desbotada etiqueta

Uhhh, que medo
Nhá nhá nhá nhá nhá

Por favor, my little boy
Gênio de arte branda
Deságua teoria
Falta de adubo
Estético de mecânica
Copista consagrado
Chupador de aplausos
Vou fingir que você engana

 Por favor, my little boy
Nosso chefe estelar
Sufrágio desastrado
Por obra do descaso
Estamos à sua mercê
Mas tome cuidado
No alto-palácio
O que sobe
Pode descer

Ah, você pode ser interessante
Depois que eu beber seis ou mais
Por hora, me inclua fora
Se for preciso, aprendo a rezar







segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ménage à Trois











Torá, Vedas, Kama Sutra
As Sagradas Escrituras
Pornografias, Salomão
Dalila e Sansão

Madalena, prostiúnica
Tenta o Filho, Pai em fúria
Libertinagem, ó patriarca
Abraão, Hagar e Sara

Zeus, Odin, Jeová
Ditadores, saravá
Reliorgias, putos de fé
Padre Anchieta e Rabelais

Fogo de Nero, tia Calígula
Roma e Atenas, pederastia
Dionísio e as bacantes
Sancho, Quixote e Cervantes

Eles só querem ménage à trois

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Há Alguém de Negro na Sala

Vista a cabra
Com leite rubro
Pedigree letrado
Sobre luto

Tão valente
Ilusão do pódio
A carne aço
Vira fóssil

Frases clones
Bufão gentil
Engasgado no ventre
Que te pariu

Cega águia
No querer céu
Teto inventado
Surtos de mel

A freira desliza
Na serpente
Enquanto o ateu
Ajoelha temente

Pai Nosso
Ave Maria
Eunucos verbais
Não garantem a vida

Há alguém de negro na sala
Esperando você

E no fim da vela
Um lume cancro
Irá te acolher

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

ACENDO UM CIGARRO

“Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
  O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
  A mão que afaga, é a mesma que apedreja”
  (Augustos dos Anjos – Versos Íntimos)

Acendo um cigarro
Pelas bocas de cem quilômetros
Sorriso couve entre dentes

Acendo um cigarro  
Pela gravata da morte
precipitada no pescoço jovem

Acendo um cigarro
Pelo obsceno atrás da porta
Vedada no humor-disciplina

Acendo um cigarro
Sobre a solidão degenerada
Sábios acenando abismos

Acendo um cigarro
Pela felicidade falecida
Sob tumores de pâncreas

Acendo um cigarro
Após a meia-noite
Suspirando alívios sem sol

Acendo um cigarro
Ao desespero dos cinqüenta
Afirmando egos de fumaça

Acendo um cigarro
Para o trovador inquieto
Na aurora do silêncio