“Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga, é a mesma que apedreja”
(Augustos dos Anjos – Versos Íntimos)
Acendo um cigarro
Pelas bocas de cem quilômetros
Sorriso couve entre dentes
Acendo um cigarro
Pela gravata da morte
precipitada no pescoço jovem
Acendo um cigarro
Pelo obsceno atrás da porta
Vedada no humor-disciplina
Acendo um cigarro
Sobre a solidão degenerada
Sábios acenando abismos
Acendo um cigarro
Pela felicidade falecida
Sob tumores de pâncreas
Acendo um cigarro
Após a meia-noite
Suspirando alívios sem sol
Acendo um cigarro
Ao desespero dos cinqüenta
Afirmando egos de fumaça
Acendo um cigarro
Para o trovador inquieto
Na aurora do silêncio